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Sara Laranjo

Entrevista a Rui Ferreira com base na obra “A Vida Numa Cicatriz”


Começo aqui um novo projeto: algumas entrevistas aos autores portugueses. Iniciando assim com Rui Ferreira, autor de "A Vida Numa Cicatriz" cuja resenha já se encontra aqui no blog disponível para leitura.


O Rui trouxe esta obra à sociedade portuguesa, mas o que é que esta obra lhe trouxe a si? Ou seja, o que “A Vida Numa Cicatriz" lhe deu?

Para além do reconhecimento público, deu-me acima de tudo a confiança que me faltava para assumir a escrita como algo que me completa e me satisfaz. Hoje sinto-me mais confiante, mais capaz, sinto-me melhor comigo próprio. Sem receio do julgamento dos outros e da acidez de algum tipo de opinião que apenas tem como objectivo denegrir e empurrar-nos para baixo.


O que o fez escolher este título e porquê o mesmo?

Se reparares, todo o livro fala acerca de sentimentos e acontecimentos que marcam ou marcaram as personagens, seja fisicamente, seja no seu âmago. Ambas as formas são dolorosas e marcantes.

A morte prematura de uma mãe é uma cicatriz que nunca cura verdadeiramente. A perda de um amigo é uma cicatriz que fica para a vida. A guerra colonial deixou cicatrizes na nossa sociedade, que dificilmente ficarão devidamente curadas. O racismo é uma chaga que deixa cicatrizes interiores horríveis.

Sendo uma parte da história fundada em factos verídicos, pareceu-me adequado o título. Era também uma forma de homenagear o meu avô, que não cheguei a conhecer, e cujo rosto parecia ser tatuado pelas cicatrizes que ostentava.


Ainda sobre o título, quando redigiu a obra escreveu com base no mesmo, ou seja, a

obra foi pensada através do mesmo, ou meramente no final deu-lhe titulo?

A única palavra que eu tinha certeza que queria no título era a palavra “cicatriz”.

Sentia que era a palavra adequada para tudo o que pretendia escrever. E com o

desenrolar da história, o título acabou por surgir naturalmente. Acima de tudo

pretendia um título forte, marcante e ao mesmo tempo enigmático.


Porque decidiu trazer o tema, embora levemente, do racismo para este livro? Isso era

um objetivo desde o início?

Confesso que quando pensei no enredo para a minha história, o tema do racismo não

era uma opção. Mas quando escrevo, perco-me um pouco na própria história e deixo-

me levar pela inspiração do momento, o que por vezes me altera completamente o

rumo dos acontecimentos e me leva por caminhos não planeados. Aconteceu isso

quando trouxe à baila o tema da guerra colonial e entendi aí, que devia abordar o

tema do racismo, ainda que fosse de uma forma “suave”. Pareceu-me que encaixava

na perfeição na história que estava a construir e ainda bem que o fiz. O racismo é um

tema que está sempre na ordem do dia, infelizmente.


A história da obra possui algumas partes verídicas, mas todo o enredo é verídico? Ou

seja, as personagens e o seu conteúdo é verídico?

O grosso dos factos verídicos da história está plasmado no primeiro capítulo. Tudo o

resto é pura ficção. As personagens que realmente existiram são o António e o

Alberto, que eram meus tios, e o Sr. Leopoldino, que era meu avô. Falo no passado

porque não conheci nenhum deles, mas cresci a ouvir as histórias daqueles dias

sombrios que se abateram sobre a família e que foram noticia nos jornais da época.


Quando se encontrava a redigir esta obra, fê-lo por disciplina ou simplesmente quando lhe apetecia? Onde normalmente o fazia?

Escrevia sobretudo quando me apetecia, em casa e nos tempos em que me

encontrava só. Ocasionalmente, quando andava no exterior, apontava no telemóvel

uma ou outra ideia ou frase que gostava de incorporar no livro.

Tentei também fazê-lo por disciplina, inclusive arranjei um programa específico para

isso, mas confesso que não fui capaz de seguir esse “ritual” durante muito tempo, pelo

que acabei por voltar à folha de texto do Word para desenvolver e concluir a obra.


A obra vai ter uma continuação, ou seja, um segundo livro?

Já fui abordado por várias pessoas que me fizeram essa pergunta e que já me

tentaram persuadir a fazê-lo, mas neste momento não é uma opção. Já pensei nisso,

creio que já defini no meu imaginário como pretendo que a história se desenrole, mas

não será para já.


E, por último, mas não menos importante, para quando está previsto um próximo

livro? Se o mesmo existir, é claro!

Existe de facto um outro livro. Está terminado e em fase de correcção. Neste momento

não tenho qualquer previsão para a sua publicação. Tampouco sei como, onde e

quando será publicado.




Obrigada Rui por esta incrível entrevista. Porque afinal, há muito mais a dizer do que o está redigido em cada obra. Obrigada por nos deixar conhecer um pouco mais de si.

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